A importância de ser o intérprete da própria vida

A vida não é só o que você pode ver, ouvir, sentir, mas o que de tudo isso és capaz de traduzir em ações com significados. Reações puramente fisiológicas também têm outras espécies, mas nem por isso são capazes de formular ideias, valores e mudança de comportamento baseada em um ideal.

As demais espécies são predeterminadas por uma lógica instintiva, generalizada e puramente visceral, enquanto nós, seres humanos, agimos em favor dos sentidos. Isto é, do valor que atribuímos às coisas.

Nós, então, somos intérpretes da vida. Pensar nisso não é simplesmente fazer uma construção poética da realidade, mas tomar sobre si a responsabilidade tanto do sucesso, como do fracasso. É a consciência do existir que assume o lugar do “eu”, em vez de apenas vagar por um eterno “quem sou?”.

Entender isso implica em não ser um rascunho da própria vida, mas seu autor! Quem olha o mundo dessa maneira dificilmente é capaz de atribuir aos acontecimentos a total culpa por suas frustrações, pois entenderá, principalmente, que o modo como interpreta os fatos é o que lhe faz reagir aos diferentes contextos.

Reducionismo?

Alguns então podem questionar: significa que a vida não passa de uma mera interpretação dos acontecimentos?

Não, porque os fatos também falam por si acerca do que são. É impossível, por exemplo, mudar alguns acontecimentos, como a morte de um parente amado; a destruição de uma casa; a traição ou um amor não correspondido. Estes são os fatos.

No entanto, o modo como interpretamos cada um dos fatos, apesar de não os tornar diferentes, noz conduz a um modo diferente de encará-los, sempre que conseguimos enxergar, a partir das nossas próprias responsabilidades, outros significados.

Pensando assim, interpretar a vida não significa mudar os acontecimentos em sua real natureza. Não é reduzir a força natural das coisas que escapam ao nosso alcance e influência, mas dar a elas um sentido diferente do que a sua existência nos oferece.

Em outras palavras, podemos não dominar todas às circunstâncias, mas temos como controlar a maneira como ela repercute em nossos sentimentos e compreensão, através dos sentidos e propósitos que aprendemos a construir no decorrer da vida.

É por isso que pessoas “sem sentido” se frustram facilmente diante de algumas dificuldades, chegando até a desenvolver transtornos de comportamento/saúde mental, entre outros, decorrentes de uma angústia originada pelo desamparo emocional que uma vida inconsciente existencialmente pode sentir.

Mas, por outro lado, se atribuímos outro sentido ao que nos afeta negativamente, logo, criamos uma nova natureza em substituição da anterior. Construímos então novas possibilidades em meio à mesma realidade, e mais uma vez isso não é mudar a veracidade dos fatos, mas possibilitar a criação de novos acontecimentos através da sua reinterpretação.

Seja o intérprete da vida

Sim, nós somos intérpretes da vida, mesmo assim alguns preferem se deixar interpretar por ela. São como folhas jogadas ao vento, podendo a qualquer momento ser apanhadas e lançadas sofre o fogo, apagadas da própria história.

São os que se deixam pintar pelas circunstâncias. Não traduzem os fatos em experiências que lhes geram aprendizado, e evolução, mas lamentando constantemente a frustração de algumas experiências, criam para si um ciclo de acontecimentos frustrantes para lhes colocar a culpa e ter a sensação de que são vítimas de um contexto onde, na verdade, eles próprios também são cultivadores.

Mas então, como ser diferente? Ora, a vida, talvez, possamos enxergá-la como arte, tal como uma pintura que requer sentimento e consciência de si. Assim, essa pintura não termina até que o artista decida parar. Ele a encerra quando perde a “sensibilidade de artista”.

Esse artista da própria vida, que é você, perde essa sensibilidade quando deixa de inspirar a si mesmo acerca das suas possibilidades. Bons sonhos são desejos de uma realidade palpável, possível de ser construída no seu presente, dia-a-dia, um passo de cada vez.

Dessa forma, o “artista” que interpreta e inspira a própria vida sonha sem perder a conexão da realidade e sua necessidade de transformação constante. Como disse antes, é “a consciência do existir que assume o lugar do ‘eu'” no mundo, deixando de ser apenas um “quem sou?”.

Entender isso significa que você se responsabiliza pelo que sonha, porque acredita que seu cumprimento faz parte da realidade do “aqui e agora”. Isso é, também, interpretar a vida.

Finalmente, você é intérprete da vida ou interpretado por ela? Quem constrói seus sonhos, a arte que você vem pintando chamada vida: você mesmo(a) ou às circunstâncias, talvez até mesmo pessoas alheias?

Ser interpretado é ter a sensação de não ter o controle, estar perdido, como as folhas jogadas ao vento que sem direção podem desenvolver, assim, ansiedade, angústia, tristeza, sentimentos de “morte”; uma “vacuidade” existencial suscetível a muitas coisas;

É ter a sensação de um sonho não vivido diariamente, mas em troca disso, uma fantasia distante, desejosa por um momento mágico. Todavia, a vida se constrói de forma real, não mágica, sem atalhos ou fantasias.

Nesta vida, portanto, se você não é seu próprio intérprete será a peça interpretada. O “show” não deixa de acontecer, o que muda apenas são os roteiros e os protagonistas. Pense nisso.

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