Autocuidado: não espere o pior acontecer para saber quando estabelecer limites

Por mais que no mundo atual a preocupação com a saúde seja uma rotina para muitas pessoas, ainda estamos longe de saber como converter essa preocupação em práticas saudáveis quando o assunto é saúde mental. Os índices de adoecimento nessa área falam por si, e é por isso que no artigo de hoje iremos tratar do significado e da importância do autocuidado.

Autocuidado diz respeito às iniciativas pessoais que visam promover a melhoria da própria condição física, mental e/ou espiritual, não sendo diretamente dependente das
circunstâncias ou de terceiros.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), autocuidado é a “capacidade dos indivíduos, famílias e comunidades de promover a saúde, prevenir doenças, manter a saúde e lidar com enfermidades e deficiências com ou sem o apoio de um provedor de saúde”.

Isto é, por essas definições, vemos que a característica marcante do autocuidado é a independência. É tudo o que fazemos por nós mesmos, independentemente das circunstâncias, sejam elas favoráveis ou não. É, portanto, o que você decide fazer por você, de modo a fazer com que todas às outras coisas se tornem secundárias.

Para tanto, a prática do autocuidado requer algumas condições, sendo elas:

Reconhecimento dos próprios limites

Você, e não os outros, precisa saber qual é o seu momento de parar. Por óbvio, cada indivíduo deve entender isso de acordo com o contexto de vida que possui. Para uns, parar é algo impensável, porque confundem as suas atividades com a própria condição mental, logo, parar significaria a própria condição de adoecimento.

É legítimo tal pensamento? Depende, pois a questão é: ele evita ou mascara o adoecimento? Nessas condições, alguns usam a rotina das atividades como “escudo”, conseguindo evitar problemas maiores. Outros, contudo, apenas se escondem atrás da mesma rotina, buscando se “afogar” num ritmo de afazeres que funciona como via de escape aos dilemas pessoais.

Mas, para outros (maioria, sem dúvida), parar é tão necessário quanto uma boa noite de sono, e aqui está uma séria questão, pois nem sempre conseguimos identificar a hora certa de parar, e em muitos casos, mesmo a identificando, não podemos parar. Então, o que fazer?

Prioridades

A segunda condição do autocuidado é a estipulação de prioridades, e esta é a resposta da questão anterior. O que vale mais, sua vida ou o seu cargo? Sua família ou o seu status? Sua saúde física e mental, ou o bônus de “melhor” funcionário do ano? O bom desenvolvimento afetivo dos seus filhos, ou o elogio do seu chefe?

O autocuidado passa pela estipulação de prioridades, e prioridades de vida, não de momento! Aqui deve entrar o que pesa mais em sua balança moral, pois é isso o que deverá determinar a orientação das suas escolhas, quer sejam boas ou más. Veja o vídeo abaixo, antes de continuar:

Projeto de futuro

Reconhecendo limites e identificando suas prioridades, é preciso haver projeto de futuro, pois o autocuidado só faz sentido quando sabemos onde queremos chegar, e por qual motivo. O vídeo acima é uma ilustração disso: sem projeto, faltam limites, e a falta de limites nos leva ao abismo!

No mundo ficcional você poderia voltar apenas “descabelada”, mas na vida real o abismo pode ser tão profundo cujo custo poderá ser a sua própria existência (sim, me refiro à ideação suicida). Ter um projeto de vida faz parte dos mecanismos de defesa para evitar que a compulsão pelo resultado te leve ao buraco.

Seu projeto é ter uma boa casa? Filhos formados? Estabilidade financeira? Reconhecimento, fama? Paz e independência? Um projeto de futuro é a bússola do autocuidado, porque é ele que baliza as ações do presente, regulando o que fazemos conforme às nossas capacidades e objetivos.

Quando não estipulamos essas três condições de autocuidado, o que ocorre, normalmente, é o adoecimento progressivo, e silencioso, da nossa condição física e mental. As consequências dessa falta de cuidado produz em nosso corpo sequelas que vão desde um resfriado ao câncer, Acidente Vascular Cerebral (AVC), gastrites, enxaquecas e dependências.

Com isso, pensando estar agindo certo, sacrificamos a nossa própria qualidade de vida, pois a ausência de autocuidado produz frustração, confusão, esgotamento e medicalização em excesso. Todas as áreas da vida são afetadas, incluindo a familiar, amorosa e espiritual.

Práticas de autocuidado

Cada indivíduo deve entender o que para si mesmo significa “cuidado”. Em muitos casos, como dito acima, isto pode significar a necessidade de interromper as suas atividades por um período, ou mesmo trocá-las por outras, talvez mais saudáveis e menos custosas ao seu corpo e mente.

Em outras situações, cuidar de si mesmo requer apenas o exercício de coisas simples como fazer uma atividade intelectual prazerosa, reservando para si um tempo de distração, por exemplo, com a leitura de um bom livro. No mundo atual, ver filmes e séries é uma das alternativas.

Exercícios físicos, esportes e tempo de qualidade junto à família são outras formas de autocuidado que precisam estar incorporadas em nosso dia a dia. Além dessas, condições indispensáveis também são ter uma boa alimentação e dormir bem. Sim, um bom sono reparador é capaz de substituir cartelas e mais cartelas de medicamentos.

Como no mundo atual estamos cercados de parafernálias tecnológicas, até o nosso tempo de sono tem sido prejudicado, incluindo o que fazemos antes dele, na cama, junto à esposa ou esposo, se é que me entendem.

Como podemos notar, o autocuidado também requer de nós uma autocrítica. Precisamos, na prática, saber quando nós mesmos não colaboramos, e em vez de se cuidar como deveríamos, preferimos esperar a doença surgir. Muitos, porém, acham que o adoecimento nunca virá, pois se enxergam fortes o bastante para lidar com as cargas da vida, e do trabalho, como se fossem de aço, mas não são!

Considerações

O mundo atual, ao mesmo tempo em que valoriza a saúde mental, também a desvaloriza, pois cobra dos seres humanos um desempenho que muitas vezes não está em conformidade com o contexto de vida dos indivíduos.

Imagine alguém que pega 2 ônibus lotados às 6h30, ficando 1h no trânsito, chegando no trabalho e tendo que atender aos sorrisos um cliente raivoso às 8h00 da manhã? Imagine alguém, que, tendo um parente gravemente doente em casa, ou dívidas exorbitantes, precisa lidar diariamente com o adoecimento de outras pessoas e seus dilemas existenciais?

Imagine alguém que atravessa um processo de divórcio, ou tem sérios problemas na relação com os filhos, tendo que apresentar um relatório minucioso dos resultados contábeis da empresa em que trabalha, ou gerir uma equipe de funcionários igualmente problemática?

Estes são alguns exemplos de situações que reforçam a noção do quanto o autocuidado é vital para o enfrentamento desses e outros dilemas. Não se trata de mero “capricho”, mas de vida saudável, com sentido e propósito. Não se trata de meramente sobreviver, mas de viver com qualidade.

Várias outras questões poderiam e devem ser abordadas nesse tema, mas estas foram às que trouxe no artigo de hoje. Vamos resumir?

Autocuidado é uma iniciativa própria, requer o reconhecimento de limites e a estimulação de prioridades. A falta dele adoece progressiva e silenciosamente, podendo te levar à frustração, dependências e medicalização excessiva.

Conclusão: pratique o autocuidado e não espere adoecer para saber quando estabelecer limites. Se você precisa de alguma ajuda nesse quesito, de ordem psicológica, clique aqui.

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