Parte do mundo atual vive em um processo de regressão a tudo o que um dia imaginou ser necessário para alcançar a felicidade. Isso, porque, aos poucos temos entendido que nenhuma evolução tecnológica, por exemplo, faz sentido sem que nela não exista (com a licença da redundância)… sentido!
Podemos observar isso de maneira cristalina na maneira como crianças precisam de tão pouco para que se sintam felizes. Em uma geração onde o celular tem se tornado quase uma extensão do próprio corpo, e com eles, infelizmente, toda a parafernália do mundo virtual, ainda podemos encontrar pessoas que valorizam a simplicidade das ondas em um final de tarde, por exemplo.
Vivenciei isto ao levar a minha própria filha para brincar numa beira de praia ao final da tarde, tendo a imensa felicidade de ver que outros pais, embora poucos, também estavam ali, com seus filhos interagindo com a natureza e tudo o que ela tem a lhes ensinar de bom.
Parte das maiores lições de desenvolvimento humano não ocorre em ambientes controlados, como a escola ou em casa, mas em ambientes naturais onde nós, como espécie, fomos dotados de mecanismos para aprender à lidar, sendo eles mesmos estruturas vitais da cognição e, consequentemente, da saúde física e mental.
Ao ver crianças livres correndo em um final de tarde na beira mar, também vi interação não apenas social, mas também ambiental. De conchas à pequenos espécimes, como caranguejos e moluscos, lhes serviram de aula natural de biologia marinha, despertando nelas a curiosidade por uma realidade que, infelizmente, não faz parte da maioria das famílias.
Quanto ao adulto, trazendo a temática para o contexto da saúde mental, tudo faz parte de um contexto amplo de aprendizado que resgata, em nós, parte do sentido da vida, tendo em vista que, uma vez ligados ao mundo que nos cerca e nos alimenta, temos maior propensão em nos sentir conectados ao que nos traz felicidade.
Na prática, parece tão simples quanto crianças correndo livres, ao final da tarde, na beira da maré, mas na realidade envolve a complexidade de conseguir entender o sentido da vida como algo muito além do vai e vem das ondas. Talvez, algo que implique em nós mesmos sabermos reconhecer que precisamos, também, ser como elas.